O Caso Americanas
Muito se tem falado, e ainda se falará, do caso Americanas. Dada sua complexidade pode-se analisá-lo sobre diversas óticas. Uma delas, por ex., é a crítica ao capitalismo feita pelos defensores do estado na economia.
Gostaria, no entanto, de lançar luz sobre dois pontos: o modelo de administração, popularmente conhecido por “sonho grande” e a facilidade com que o sistema financeiro e as grandes auditorias falham ou pior, viram cúmplices do ganho a qualquer custo.
A lógica do grupo 3G Capital é a de levar o executivo, escolhido a tocar os seus empreendimentos, a priorizar o trabalho acima de qualquer coisa. O resultado acima de tudo. O cumprimento de metas audaciosas, em primeiro lugar. Em troca, a recompensa: tornar-se um milionário! A obsessão pelo EBITDA e pelos vultosos bônus levam executivos a tomarem decisões limítrofes, como a que estamos assistindo no caso Americanas, tanto em termos éticos quanto legais. Mais ainda: decisões que impactam negativamente a sustentabilidade das empresas no médio e no longo prazo. O modelo de remuneração baseados na lucratividade máxima qualquer que seja o custo, ainda que não seja explicitado oficialmente, precisa ser revisitado. No caso Americanas, a disparidade média de remuneração entre o CEO e os demais colaboradores é da ordem de 400 vezes contra 100 vezes nas empresas listadas na B3 (artigo Americanas: o sonho grande que deu errado” – Mariana Barbosa – O Globo – Opinião – 24/01/2023).
A prática do “risco sacado” pelo comércio varejista e a cumplicidade que estamos assistindo do sistema financeiro (sempre agindo com a rapidez de uma raposa e a coragem de uma galinha) com as auditorias externas, em especial a PwC, expõem a fragilidade dos pesos e contrapesos que deveriam regular o sistema de governança corporativa.
Como a CVM e a justiça vão lidar com estas questões? Como a classificação de empresas na B3 se comportará daqui para frente?
Estes dois pontos (método “sonho grande” e a cumplicidade do sistema financeiro e das auditorias externas com o lucro a qualquer preço) merecem toda atenção especialmente dos analistas de mercado, especialmente pela função de orientar inúmeros investidores, não somente grandes, mas sobretudo os pequenos.