A Faxineira lá de Casa e as Eleições de Domingo
Tinha na minha casa uma faxineira chamada Léa. Apesar de muito querida, ela era daquelas pessoas “inajudáveis” (se é que a expressão existe). Sua família era uma Usina de problemas. Viúva (ela dizia), tinha uns 12 filhos. Alguns deles ligados ao tráfico, outros desempregados. Dentre as filhas, uma mãe aos 14 anos, outra avó aos 27 e uma terceira que vez por outra ia para a delegacia porque apanhava do novo marido. Apesar de tudo isso, era uma filósofa da vida. Vez por outra, para melhorar o astral, tomava uns tragos que baixava o nível do whisky ou da vodka que guardava no bar e também de suas angústias. Mas o melhor de tudo era que, independentemente do que tinha acontecido de ruim na semana anterior ou do que estava prestes a acontecer, quando chegava lá em casa eu perguntava: “e ai, Lea, tudo bem?” E ela, sabiamente, respondia, com um sorrisinho maroto nos lábios: “por enquanto…”.
Isto me remete à eleição deste domingo. A certeza que fico quando pergunto a algumas pessoas do por que votarão na Dilma neste Domingo é equivalente ao sentimento da expressão “por enquanto…” da minha saudosa faxineira. Boa parte ou está empregada (mesmo que, ainda) ou é beneficiada por algum dos programas assistenciais.
Fico me perguntando se a campanha do Aécio não errou o foco. Centrar no caso Petrobrás e nos escândalos de corrupção ocorridos parece contar estória antiga. O brasileiro de classe mais baixa está cansado de saber que, “no andar de cima”, isto sempre aconteceu. Pior, sempre aceitou este estado de coisas desde que não o afetasse, diretamente. Em geral, ele não associa estes atos ao seu dia a dia. Falar também dos problemas econômicos macro, como o saneamento dos bancos públicos também demonstrou ser um erro. Aliás, serviu apenas de munição para o PT dizer que ele privatizaria estes bancos (BB, CEF e BNDES). Na mesma linha, cometeu o extraordinário equívoco de municiar o PT com a informação, absolutamente desnecessária, de que Armínio Fraga seria seu ministro. Fica claro que sua campanha não conseguiu transmitir o óbvio: o baixíssimo crescimento econômico de hoje, vai tirar e emprego e a comida da mesa de muitos, amanhã e não depois de amanhã.
Ao contrário, o PT demonstrou-se muito hábil na desconstrução de candidatos (Marina e Aécio). Ouvi de várias pessoas coisas do tipo: “Aécio vai privatizar a escola pública onde meu filho estuda”, “Aécio é o candidato dos ricos, dos patrões…”, “se o Aécio ganhar vai querer reformar o sistema de abastecimento e vai faltar água como está faltando em SP”, “Aécio é drogado, play boy mineiro metido a carioca”, “é mulherengo”, “maltrata as mulheres” e vai por aí afora.
Observem que a candidata Dilma é fraca. Na aparência, é do tipo “vaca sagrada” (animal que em algumas culturas, ninguém come). É mal humorada, tem fama de tratar pessimamente seus subordinados, de não escutar ninguém. Tem uma péssima relação com a imprensa. Estas características desuniram bastante o PT ao longo de seu governo. Tanto que o movimento “volta Lula” somente aquietou-se durante a campanha.
Moral da estória: ainda que espere que as urnas neste domingo nos surpreendam positivamente com uma vitória de Aécio, estou convencido que, se Dilma vencer, será a vitória do “por enquanto…”