Estadios, Eleicoes e Museus
Ao que tudo indica assistiremos neste ano de 2014 uma acirrada troca de farpas entre a FIFA e o governo brasileiro. Este último, certamente, vai transformar o primeiro no mais novo FMI. Para quem não se lembra, o FMI – Fundo Monetário Brasileiro era odiado aqui no Brasil quando nossas contas públicas iam de mal a pior nos idos das décadas de 70 e 80. Cabe ao FMI, na qualidade de um Fundo constituído por recursos de diversos países, avaliar e de certa vigiar o bom comportamento das contas públicas dos países para os quais ele empresta. Claro que a maioria deles nada comportados no quesito gastar menos do que ganham, reagem quando alguém diz o que e como se tem que fazer para conseguir que sobre dinheiro. Aliás dois são os sonhos universais dos seres humanos: emagrecer sem precisar parar de comer e poupar sem precisar parar de gastar. Claro que transformar em diabo aquele que vem aqui dizer como fazer o oposto disso, não é tarefa muito difícil especialmente para governantes em períodos eleitorais.
Faço esta introdução mencionando o FMI porque ele está me lembrando este acirramento de ânimos que tende a se acentuar neste ano de 2014 – de Copa do Mundo e de eleições – entre a FIFA e os nossos governantes. As coincidências entre FMI e FIFA são ainda maiores se passássemos a descrever aqui os escândalos que envolvem e envolveram seus dirigentes. Não me deixam mentir Dominique Strauss-Khan (FMI) e Blatter e João Havelange (FIFA).
Aqui no Brasil, já se tornou bordão a expressão “padrão FIFA”. Ela é utilizada sempre quando se quer fazer menção a algo de qualidade. Ocorre que quando um país aceita sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada ele se compromete a cumprir uma série enorme de exigências muitas das quais incompatíveis com seus orçamentos e absurdamente contrastantes com as demandas sociais de sua população.
Ora, salta aos olhos que um dos maiores aliados da campanha eleitoral de nossa presidenta Dilma e de seu partido será o bater boca com esta entidade que exige o já conhecido “padrão Fifa” num país cujo povo acabou de ir as ruas em manifestações contra a inexistência em níveis minimamente aceitáveis de transporte, de assistência à saúde, de educação e de saneamento. São 12 estádios que sediarão a Copa de 2014 espalhados pelo Brasil (agora chamados de “Arenas”). Verbas (e seus desvios) gigantescas envolvendo a reforma de alguns e a construção de outros. Pior num país que se já foi só do Futebol está gradativamente passando a ter outros encantos até porque ir a essas novas Arenas, de popular já não tem quase nada considerando o atual valor dos ingressos. Em muitos países, que serviram de sede para estes eventos, estas Arenas construídas ou reformadas ficaram ociosas exarcebando ainda mais o desperdício e/ou a falta de prioridade.
Claro que sediar eventos desta magnitude traz inúmeros benefícios a um país. Coloca-o em evidência, gera empregos, movimenta sua economia. A dificuldade está em dar sustentabilidade a estes investimentos de forma que eles não se apresentem apenas como um vento que dá e que passa.
Exatamente por isso, não somente a construção de Arenas ou Estádios são importantes. Pelo contrário. Investimentos em lazer e também em cultura são além de mais em conta de serem construídos, também mais auto sustentáveis no médio, longo prazos.
Exemplos disso são a construção, em andamento, do Museu da Imagem e do Som – MIS, o Museu de Arte do Rio – MAR e a Casa Daros estes dois últimos recém inaugurados no Rio de Janeiro.
Em conclusão duas coisas parecem ficarem claras. A primeira é que investimentos em outros templos da cultura e do lazer são mais sustentáveis economicamente no médio e no longo prazos se comparados com a reforma e a construção destas diversas novas Arenas que estão por vir para sediar a Copa do Mundo de 2014. A segunda é que o governo brasileiro com o auxílio de seu povo vai saber, em muito, utilizar-se deste seu mais novo cabo eleitoral a FIFA e o seu“padrão FIFA”.