As camisas com bolsos e a sacola

Um caso de quando o bom senso se encontra com o absurdo

Ontem, ao voltar para casa, me deparei com o mega engarrafamento provocado pela passeata-protesto dos “sem luz”, moradores da Rocinha. Segundo relatos, o calorão queimou a rede que abaste a comunidade. Ao que escutei falar, o uso intensivo de ar-condicionados não combina bem com os “gatos” que lá existem. Até aí, coisas do Rio de Janeiro.

Ocorre que este engarrafamento me levou a fazer uma hora no Shopping Leblon. Em lá entrando me lembrei que precisava comprar camisas.

Entrei em algumas lojas até que me deparei, na Zara, com camisas (duas) que possuíam um singelo e antigo artefato chamado “bolso” e, melhor ainda, de tamanhos normais. Explico: os bolsos por alguma razão, que somente a moda e seus ilustres criadores – hoje elegantemente chamados de “estilistas”, foram sumariamente retirados, faz tempo, da imensa maioria das camisas. E, quando eles ainda resistem, também por alguma outra razão que a própria razão desconhece, tornaram-se minúsculos e apenas decorativos.

Enfim, achei as camisas, com bolsos, que tanto procurava. Aí começa a melhor parte da história.

Levei-as ao caixa para enfrentar a derradeira e pior parte de toda compra: a hora de pagar.

Aí fui surpreendido com uma pergunta do caixa: “o Sr. tem alguma sacola para entregar?”

Naturalmente que não entendi a pergunta e pedi para repeti-la, afinal pensei que não a havia escutado bem. Ele a repetiu. Ao que respondi: “não entendi?!”

Foi quando ele me fez a segunda pergunta: “o Sr. desejaria uma sacola?” Ao que respondi e repliquei: “Claro! Você supõe que eu vá sair daqui levando as duas camisas na mão?!”

Ele então me explicou que neste caso deveria pagar exatos R$0,50 reais pela sacola! Quanto?! Isso mesmo, metade de R$1,00, quase nada. Um valor simbólico.

Naquela fração de segundos entre decidir por pagar ou não pela dita sacola, vários dúvidas me passaram pela cabeça: trata-se de exploração, de capitalismo moderno, de modernismo, de economia circular, de meio-ambiente, de preservação de árvores, do conceito ESG na prática?

Sai de lá refletindo sobre tal prática, mas com uma única certeza: a de como eventuais boas causas e intenções podem ser afetadas enormemente por equívocos em sua implementação.

Afinal, por mais ecológico que eu e o leitor sejamos este formato de pseudo educação ecológica, lembrou-me um dito que carrego sempre comigo: “ uma boa ideia sempre será comprometida por não termos uma boa metodologia para aplicá-la”.