Estamos diagnosticando corretamente a crise dos planos de saúde?

Os recentes cancelamentos de planos coletivos, estão levantando acaloradas discussões na imprensa e no setor.
Operadoras de todos os segmentos apresentam resultados operacionais negativos. Hospitais e Laboratórios, idem. Todos buscando alternativas de financiamento para melhorar seus balanços.
Isto tudo gera insegurança nos contratantes. De um lado, famílias, com filhos autistas tendo tratamentos interrompidos, pacientes crônicos e idosos, requerendo cuidados e exames frequentes, idem. De outro os planos empresariais com reajustes anuais na casa dos 20%, fazem o possível para tentar arrefecer este impacto, sem muito sucesso.
Várias são as causas. A omissão da ANS; uma regulação falha restringindo os reajustes dos planos individuais causando a baixa oferta deste produto e o surgimento dos planos para microempresas além dos coletivos por adesão. A má gestão das operadoras, as fraudes, o novo rol de procedimentos, e o desconhecimento sobre o mutualismo, agravam também este quadro.
Nosso sistema de saúde é dual. É composto pelo público e o privado. Sendo este último, complementar, aqui denominado suplementar. Na prática ele é substituto. Substituto ao público.
Com o envelhecimento da população e o consequente avanço das doenças crônicas fica evidente a impossibilidade do setor privado atender de A a Z as necessidades da população aos preços atuais que, apesar de elevados, são insuficientes. Saúde é um setor que exige, dado seus elevados custos, a participação do estado.
Analisarmos as dificuldades por que passam os setores público e privado em separado, é um equivoco.
Proponho acharmos um caminho para que o atendimento pelo SUS, deixe de ser apenas para aqueles que NÃO tem outra opção e passe também a ser destinado àqueles que o utilizarão, por OPÇÃO.
Seria possível pagarmos por um “plano de saúde público” além daquilo que já pagamos de impostos? O custo disso seria proporcional a nossa renda? A nossa declaração de IR, bastaria como prova? Claro que isto exigiria uma reforma na Constituição. Seria necessário que acabassem as deduções com gastos de saúde no IR. Mas, teria inúmeras vantagens. A principal é a trazer os formadores de opinião, a classe média, para o SUS.
Mitigar os desvios e a corrupção na saúde, são alternativas. Mais ainda, ampliar os seus recursos. São tarefas hercúleas. Com o maior orçamento do país, a saúde é cobiçada politicamente. Qual a melhor alocação de recursos entre saude, assistência social, saneamento, educação, segurança e transporte?
Parece óbvio que a crise dos planos de saúde está ligada à do SUS. Estamos, focando a crise num só dos seus lados. Se continuarmos com essa miopia, teremos um setor privado insustentável. Continuaremos também a ver as clínicas populares e os cartões de desconto – ainda sem regulamentação, ampliando seus clientes e um SUS cada vez mais debilitado.
Um verdadeiro círculo vicioso!