Antonio Cortese é engenheiro pela Escola Politécnica da USP e administrador pela Fundação Getúlio Vargas e desde 1995, detém parte dos direitos da Vistage no Brasil. Conversamos com o administrador sobre a importância da interação e troca de conhecimentos entre CEOs. Falamos também sobre as dificuldades de relacionamento interpessoal, as constantes transformações do mercado, a tomada de decisões e a complexa fase da sucessão.
Cortese nos contou que o momento econômico do Brasil abriu as portas para um novo padrão de executivos, os ‘Emerging Entrepreneurs’, ou ‘Empresários Emergentes’, que não possuem o tempo e os recursos necessários para ser um membro da Vistage e mostrou como a organização vem, aos poucos, adotando um modelo mais enxuto de atuação a fim de agregar também esse novo perfil executivo.
Antonio Cortese é engenheiro pela Escola Politécnica da USP e administrador pela Fundação Getúlio Vargas e desde 1995, detém parte dos direitos da Vistage no Brasil. Conversamos com o administrador sobre a importância da interação e troca de conhecimentos entre CEOs. Falamos também sobre as dificuldades de relacionamento interpessoal, as constantes transformações do mercado, a tomada de decisões e a complexa fase da sucessão.
Cortese nos contou que o momento econômico do Brasil abriu as portas para um novo padrão de executivos, os ‘Emerging Entrepreneurs’, ou ‘Empresários Emergentes’, que não possuem o tempo e os recursos necessários para ser um membro da Vistage e mostrou como a organização vem, aos poucos, adotando um modelo mais enxuto de atuação a fim de agregar também esse novo perfil executivo.
CRM: O que é a Vistage e qual é o principal objetivo?
Cortese: A TEC – que na época era o nome da Vistage – foi fundada em 1957, por Robert Nourse. Ela adota um modelo de negócio que associa “peer groups”, grupos de pares, com reuniões individuais para CEO’s e equivalentes. O objetivo é aprender em conjunto, sem ser ensinado com a participação de um interlocutor independente, sem potencial conflito de interesse. A Vistage é dedicada a aumentar a eficácia e a expandir as vidas dos CEO’s. Nosso posicionamento está no logo: melhores líderes – melhores decisões – melhores resultados.
CRM: Como surgiu a ideia de criar a Vistage Brasil?
Cortese: Sou sócio do Luiz Paulo Ferrão na empresa que possui os direitos da Vistage no Brasil. Ficamos amigos há muitos anos, na Poli (Escola Politécnica da USP), no começo dos anos 60. Nunca tivemos negócios em comum antes de 1995 quando compramos a licença brasileira da TEC, acrônimo de “The Executive Commitee”. Mas, na verdade, a nossa sociedade surgiu um tempo antes, jogando conversa fora em um encontro que fazíamos vez ou outra. Um comentou que estava na hora de procurar a porta de saída da vida de executivo de multinacional, o outro falou que também estava a pensar em “sair de perto da hélice”. Um amigo francês de um e um conhecido executivo mexicano de outro já haviam comentado sobre a TEC. Pagamos a conta e fomos embora, pensativos. Compramos a licença meses depois, ao ir a Aspen, San Diego e Orange County para conhecer o licenciador, participar de reuniões de grupos, contratar e ser treinados. Formamos os dois primeiros grupos ao fim de 1996.
CRM: Como são as reuniões da Vistage?
Cortese: Temos dois encontros mensais, um é em grupo e outro é individual, entre o coordenador e o CEO. Estes dois processos são como a corda e a caçamba, indissociáveis para alcançar nossa missão. As datas das primeiras são fixadas como para um Conselho Consultivo: primeira quarta-feira útil do mês, por exemplo. As datas das individuais são marcadas nas individuais anteriores.
CRM: O que é debatido nesses encontros?
Cortese: A reunião de grupo é mensal, dura 8h, e é itinerante entre as instalações dos participantes, de modo que eles sintam como cada um opera seu negócio. Nos grupos rolam as questões das agendas dos CEO’s, sempre comuns, independentes dos tamanhos das suas empresas: relações entre pessoas; planos; mercados; transformações; fundos; distribuição. O papel dos coordenadores é organizá-las em segurança, propor uma agenda, requisitar eventuais palestrantes, gerenciar o tráfego de idéias, equilibrar participações, abrir espaço para as questões pessoais que afetam os participantes e por ai vai. Não há limite, só o de cada participante. A reunião de grupo é o conhecimento coletivo. Procuramos remeter as dúvidas e questões aos grupos. São os alimentos da aprendizagem comum.
CRM: Quantos grupos existem e como são realizados os encontros?
Cortese: Hoje temos 12 grupos em São Paulo e 3 no Rio. Esses grupos têm participantes de várias cidades de cada estado e nelas se reúnem, às vezes viajando por uma hora, hora e meia e até mais. A regra global é “200 miles driving distance”. Há participantes cariocas nos grupos de São Paulo e vice versa. Muitos deles têm escritórios numa ou noutra capital. Há membros do Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Já tivemos grupos sediados em Goiás e Minas, com gente de Alagoas, Pernambuco e Bahia. Diz o Carlos Rivadávia, hoje já aposentado, nosso terceiro coordenador, que São Paulo é polo de atração e a maior densidade mundial de CEO’s. Eles escolhem onde vão.
CRM: Por que são realizadas reuniões individuais?
Cortese: A reunião individual é de 2h por mês. A reunião individual é a reflexão do participante assistida pelo coordenador. Cremos que a resposta está lá com o participante, quando responde de modo claro, consistente e vital. Só o participante põe limites aos assuntos. Mas também não ultrapassamos limites que desconhecemos: não somos médicos, psicólogos, clérigos, gurus ou consultores em economia e investimentos, por exemplo.
CRM: Qual é a importância da figura do coordenador de grupos?
Cortese: O coordenador é um igual mas não é um par. Ele só facilita a aprendizagem entre os membros; não é um vetor de conhecimento; A este cabe perguntar. É treinado para isso: ouça 80% do tempo, fale 20%; indague 80% do tempo que fala, só afirme ao resto dos 4%. Usamos a técnica do Neil Rackmann, o SPIN, preferencialmente. Não pode ter outras relações comerciais com membros de seu grupo. Os grupos não podem conter competidores ou fornecedores preferenciais nem sócios, cônjuges, familiares; não devem ter amigos anteriores. Sua graça é oferecer ambiente livre de conflito de interesses, independente, sincero e sob confiança. O coordenador é quem constrói o grupo, escolhe, convida as pessoas e afiança a confiança.
CRM: Como se tornar um membro da Vistage?
Cortese: A participação custa caro: quanto vale 10, 12 horas por mês de um CEO, de sua energia e disposição para ajudar? A tabela cobra R$ 3.300,00 por mês, corrigidos todo mês de abril, mais o custo de receber o pessoal uma vez por ano. O coordenador, que é remunerado, dá o crédito e os descontos cabíveis, faz os termos do contrato, escolhe e convida os membros. O coordenador é também quem faz com os candidatos a entrevista inicial, de mútua seleção, quando procura se assegurar que a pessoa não compete com outros participantes do grupo, não tem relacionamento próximo anterior, quais seus objetivos e que benefícios podem lhe ser oferecidos.
CRM: Então s Vistage só tem a participação de CEO’s de grandes empresas, certo?
Cortese: Notamos um número expressivo de CEO’s que não dispunham de tempo ou recursos para aderir ao programa da Vistage que adotamos no Brasil. Negócios iniciantes, start-ups, empresas em reestruturação, firmas familiares em fase de pré-sucessão ou sucessão, ou mesmo negócios maduros e bem resolvidos, entre outros, exigem muito de seus dirigentes e sucessores. Por isto iniciamos este ano a adoção de um programa da Vistage que tem experiência de mais de 10 anos nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália. Chama-se EE, de Emerging Entrepreneurs e que também chamamos de EE, Empresários Emergentes. Este programa requer só 60% dos recursos de tempo e dos desembolsos do programa Vistage e contem os mesmos atributos: reunião de grupo; reunião individual; eventual especialista; acesso às iniciativas internacionais da organização, etc.
CRM: Quais são as perspectivas da Vistage para os próximos anos?
Cortese: Nos próximos anos vamos dedicar mais energia ao desenvolvimento de novos coordenadores, seja para atender às cidades onde estamos, seja para novas regiões. Acabamos de treinar um profissional de Criciúma e outro de São Paulo, por exemplo, e eles neste momento fazem seus planos de trabalho para que apoiemos as execuções. Além disso, estamos organizando em todo o mundo uma série de eventos, como, por exemplo, o Summit que será realizado em janeiro de 2013, em Dallas, dirigido a Membros e Chairs. Estes eventos, bem como eventos brasileiros, ocorrem de tempos em tempos.
CRM: E para finalizar, porque fazer parte de um grupo como a Vistage?
Cortese: Costumamos dizer que as pessoas aderem por alguma razão, mas ficam por outras. Ter a quem prestar contas, ter a quem perguntar e conversar sobre suas dificuldades, ter um fórum independente e sem conflitos de interesse para se aconselhar são algumas das razões mais encontradas. E isso acontece porque nós amamos o que fazemos: coordenar os grupos. Nós e os outros 14 coordenadores de grupos do Brasil, cujos minivitae estão no www.vistage.com.br. Arrisco dizer que a maioria dos mais de mil “chairs”, coordenadores de mais de 15.000 membros, de outros 16 países também. “Elogio em boca própria é vitupério”, dizia minha avó vêneta, mas também a maioria dos cerca de 160 membros dos 16 grupos brasileiros são beneficiados pelos nossos processos.